Ninkasi, deusa suméria da cerveja

Escrito por Helena Bordini

Você sabia que a cerveja foi uma invenção essencialmente feminina há cerca de 10 mil anos atrás? Especialmente na Mesopotâmia e na Suméria, a cerveja, desde sua invenção, tinha como objetivo principal a alimentação da família, ou seja, uma parte do cardápio familiar e o cardápio familiar era uma função atribuída a quem cuida dos afazeres domésticos, ou seja, tarefa atribuída as mulheres. Mais do que a invenção, o aperfeiçoamento da mesma foi, por muitos anos, ofício exclusivamente feminino. Não demorou muito para que o comércio da cerveja começasse como forma de incrementar o orçamento da casa, então as mulheres começaram a administrar vários pub’s. Isso mesmo, os bares eram frequentados apenas por mulheres a fim de discutirem novos ingredientes e preços. Tais mulheres eram conhecidas como “Alewifes”, ou esposas-Ale, onde a palavra “Ale” se remete ao malte das cervejas por elas fabricadas.
Estima-se que no século XV (crise da Idade Média e início do Capitalismo), o desenvolvimento e a fabricação da bebida começaram a ser retirado das mãos e do universo feminino e aos poucos a ser ressignificado como um elemento masculino. Isso se deu pelo fato de que a igreja condenava fraternidades femininas ditas como “movimentos hereges” e foram ferozmente perseguidos, então deu-se início ao período de “Caça às Bruxas” que ficou muito popular desde então. A figura de bruxa era facilmente associada as mulheres cervejeiras por conter, em sua posse, caldeirões para a produção, gatos para eliminar os ratos que se proliferavam nos pub’s por consumirem os maltes e as vassouras penduradas na porta para avisar que ali se comercializava cerveja. Muitas cervejeiras foram queimadas na fogueira, injustamente, acusadas de bruxaria.
Enquanto isso acontecia, muitos homens foram aprendendo a produzir cerveja, pois o hábito de toma-las já se tornara muito popular em toda Europa. Tal processo de apropriação se deu desde o século XV até meados do século XVIII.
O processo de produção em grande escala começou juntamente com a revolução industrial, e como trabalhos fora do lar era atribuído ao homem da casa, a produção e aprimoramento de cerveja passou a ser algo dominantemente masculino. E assim a figura feminina começou a ser apagada da história da criação e produção de cervejas.
Então, antes de sugerir a uma mulher que beba um vinho por ser uma bebida mais feminina, lembre-se que o DNA da cerveja é completamente femeal!

 

Referências Bibliogáficas:
Livros: Drink: A Tippler’s Miscellany, Brilliant Britain e Beer o’ Clock – Jane Peyton;

 

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