Sônia Guimarães

Foto: Juliana Santoros

Nascida em Brotas – SP  em 1957,  É a primeira negra brasileira Doutora em Física, graduou se na Universidade Federal de São Carlos (1979), mestrado em Física Aplicada pelo Instituto de Física e Química de São Carçar – Universidade de São Paulo (1983) e doutorado em Materiais Eletrônicos – The University Of Manchester Institute Of Science and Technology (1989) e atualmente é professora do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

Para uma mulher entrar no mundo da ciência, onde tem sua maioria homens brancos, já tem certa dificuldade, ainda mais se for uma mulher negra. Sua história teve muitos obstáculos, estudou em escola estadual e sempre gostou de matemática, sofria com o racismo, isso à prejudicou no seu primeiro ano do ginásio, e uma professora de física disse à ela que jamais ia aprender física. Mesmo com esses fatores, ela passou em segundo lugar para o colegial. Acabou cursando ensino técnico em Edificações no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, onde decidiu que seria engenheira civil. No seu terceiro ano de curso técnico, ainda arrumou um emprego e em seguida entrou no cursinho, lugar em que se apaixonou por Física e incluiu o curso em uma das opções para o vestibular.

Passou no vestibular e foi estudar Física na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em período integral. Durante a graduação teve uma bolsa de iniciação científica recusada porque a professora responsável pela pesquisa disse que ela nunca usaria Física na vida. Sônia disse em uma entrevista: “Eu queria tanto que ela visse o que eu ‘não fiz com Física’, porque realmente ela se negou a me dar a bolsa. Será que ela ficou sabendo do que aconteceu comigo depois? Eu mesma gostaria de ir lá e contar pra ela!.

Ainda disse das dificuldades encontradas no mercado de trabalho pelas mulheres negras: “elas têm que estudar, se especializar, se tornar altamente qualificadas, pois por serem negras, tudo será muito difícil, portanto, têm que ser as melhores.” O investimento em formação pode incentivar a participação das mulheres em variados espaços de poder. “Necessitamos de mais mulheres negras escolhendo, fazendo a seleção de pessoal. Não adianta ser a única. “Se formos muitas e em várias posições hierárquicas, isso vai melhorar”.

A minha interseccionalidade é terrível, eu sou interseccional em tudo quanto é lugar, e não aceita de todos os lados. Um grupo fala ‘ah, mas ela não é preta o suficiente’, o outro grupo ‘ah, mas ela não é branca o suficiente, quer dizer, o que eu faço? Se eu me incomodar com tudo isso, eu enlouqueço. Ela conta sobre o que é ser mulher num instituto tecnológico militar, onde majoritariamente a comunidade é masculina, branca e homofóbica, por mais que os preconceitos não sejam declarados da parte deles. Porém, como no ITA “não existe raça ou gênero”, Sônia sempre foi julgada como “incapaz”, afinal, é como ela diz: Eles dizem que não sou inteligente o suficiente, porque se fizerem um comentário sobre eu ser mulher, posso processá-los. Se falarem que é porque sou negra, racismo é crime. Mas se o problema é eu ser burra, não dá pra fazer nada. A todo momento eu tenho que provar que sou o bastante.

A professora conta que nunca imaginou que chegaria onde chegou. “Nunca houve um plano exato disso ou daquilo, se você percebeu as coisas foram acontecendo e eu nunca disse não”, afirma. Ela dá a dica para as mulheres que querem superar os obstáculos pelos quais passou: Faça o melhor que você puder. Prove. Mostre. Estude sempre. Não dê chance para que a injustiça se engaje e fique presa em você. Esteja preparada. Se for necessário, processe. Para as pessoas saberem que você tem direitos!

É doutora em semicondutores e até 2016 liderava uma pesquisa sobre o desenvolvimento de sensores de calor nacionais. É mantenedora da universidade Zumbi dos Palmares, trabalha em projetos que envolvem educação para estudantes de áreas carentes e de frentes feministas.

 

Referências: 

curriculo lattes http://lattes.cnpq.br/3737671551535600

http://mulheresnaciencia-mc.blogspot.com/2013/02/sonia-guimaraes.html

https://falauniversidades.com.br/primeira-doutora-negra-fisica/

https://ceert.org.br/noticias/genero-mulher/24423/dia-da-engenharia-sonia-guimaraes-foi-a-primeira-mulher-negra-professora-no-instituto-tecnologico-de-aeronautica-ita